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Foi logo no primeiro dia de Primavera Sound que o Porto recebeu um dos concertos que marcou a edição de 2016. Os islandeses Sigur Rós têm uma relação muito bipolar, ora de um amor derretido ora de um certo distanciamento provocado pela evolução artística dos rapazes. Mas este concerto foi muito, muito especial e bonito.
Logo a abrir, os Sigur Rós presentearam-nos com música nova: «Óveður», primeiro avanço para trabalho novo que poderá chegar em 2017 – aquando do 20º aniversário da estreia com «Von». Som mais riscado e experimental, um piscar d’olho soturno àquilo que o instrumental avant-garde anda a fazer. Foi um aperitivo que abriu o apetite para mais, seguido de grandes memórias: «Starálfur» (Ágætis byrjun, 1999) e «Sæglópur» (Inni, 2005).
Da penumbra de um palco bem cénico e dramático, ouvimos os primeiros acordes e a angelical voz de Jónsi Birgisson. Sim, era «Glósóli» e era o primeiro momento de êxtase e felicidade pura no Primavera Sound. Uma década depois, a composição permanece capaz de libertar em nós um turbilhão de emoções. E assim foi: vimos as primeiras lágrimas, os primeiros arrepios em palco. Quando entraram com toda a força em «Vaka» (2002), a emoção transformou-se numa beleza transcendental, incapaz de explicar por palavras. Acho que ninguém estava preparado para este abanão – nem estreantes, nem repetentes. A frente de palco, a primeira fila em Sigur Rós encheu-se de serenidade. A noite prosseguiu com mais viagens ao passado: «Ný Batterí» e «E Bow» pontuaram.
A última vez que ouvimos um disco novo de Sigur Rós, corria ainda o ano de 2013. «Kveikur», é um conjunto de experiências que cruzam o pós-rock e o lado mais etéreo dos islandeses. A noite nórdica esconde muitos mistérios, e com «Yfirborð» e «Kveikur», faixa-título, levaram-nos pela mão até à grande, grande recordação da noite: «Hafssól», retirado de 199 e uma das minhas favoritas, uma viagem pelo cosmos sem tirar os pés do relvado do Parque da Cidade.
Nada é simples em Sigur Rós mas tudo é virtude. A quem achou que já nada restava para surpreender, os islandeses surpreenderam. O som é feito com mestria, não percebemos uma palavra do que é dito para compreendemos as fábulas sonhadoras que nos apresentam, na imensidão de milhares de pessoas ora em pé ora sentadas encontrámos a nossa paz. E é isto que levamos deste concerto: a memória de um momento único e irrepetível. A passagem de Sigur Rós pelo Porto terminou com a irónica «Popplagið», traduzida em inglês como “The Pop Song”.