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Ao segundo dia do Super Bock Super Rock o melhor hip hop fez-se em português e Slow J foi rei, o verdadeiro cabeça de cartaz. E com isto nem queremos dizer que preferíamos tê-lo visto actuar no palco principal da escura MEO Arena, porque a luz de final de tarde, que iluminou a bonita plateia debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, permitiu-nos ver os muitos sorrisos espalhados pelo público e o mais genuíno de todos, o de João Baptista Coelho.
Um ano depois, o setubalense parece ainda não ter acordado desse sonho que só faz é crescer, e recorda essa tarde solarenga do passado SBSR, perguntando quantos de nós estavam lá. As vozes multiplicam-se em resposta, muitos repetentes sim, mas este ano somos mais, muitos mais, a família cresceu e na casa de Slow J “qualquer cor dá”, há espaço para todos, há “mistura e música”.
Cresceu também a discografia do músico e produtor. No ano passado preencheu a setlist como pôde, trazia consigo apenas o EP estreia, The Free Food Tape, que ninguém se importaria de ouvir em repeat pela tarde fora. Mas este ano já temos The Art of Slowing Down, o muito aguardado álbum estreia, e garantidamente um dos melhores discos do ano, apresentado com estrondo ao vivo meses atrás, numa noite que os presentes ainda não esqueceram.
“Arte”, “Sonhei para Dentro”, “Às Vezes”, “Comida” desfilam diante nós ainda mais pujantes que em disco, com essa tensão própria de quem despe em palco a alma e nos dá tudo. O público pode não ter o flow impossível de Slow J mas compensa na paixão fervorosa em como acompanha as letras. Slow J sabe disso e aproveita a ocasião para agradecer a todos os que, nos muitos concertos que tem dado Portugal fora, cantam as suas rimas, esses “sonhos escritos num caderno” feitos no quarto, hoje ali outra vez reais, em cima de um palco.
A música de Slow J, ou melhor, a arte de Slow J, não se prende apenas em hip hop. A meio do concerto já fomos do rock ao semba, já cantámos serenatas, já explodimos nas batidas fortes e já nos libertámos em rimas. É possível que quem ali tenha chegado de pára-quedas, sem saber ao que ia, se sinta algo perdido, mas Slow J esclarece divertido “se estiverem confusos se isto é hip hop, se é rock ou o quê, não se preocupem que vai correr tudo bem”.
Para além de Slow J estão também em palco Francis Dale e Fred Ferreira, esse impulsionador de tantos outros projectos na música portuguesa, que mais tarde estaria também ao comando da bateria com os Língua Franca. E depois, os convidados obrigatórios, Nerve “nervoso”, para a pesada “Às Vezes”, onde só lamentamos que a falha de som no microfone, não nos tenha trazido a sua voz, para uns dos melhores e mais negros versos em The Art of Slowing Down. Gson e Papillon rasgaram a tarde com “Pagar as Contas” e ajudaram na festa em “Vida Boa”, que libertou um mosh pit ao nosso lado. Houve ainda a justa homenagem a Valete, com os versos de “Canal 115”, que mesmo não estando em palco (receberia mais tarde a merecida ovação quando actuou com Língua Franca), é omnipresente a toda a nova geração de rappers.
No final, todos de coração cheio sem queremos que isto acabe, nem o próprio Slow J como confessa, mas as curtas margens dos festivais são sempre ingratas e concertos longos é um privilégio apenas reservado aos cabeças de cartaz, isto é, quando assim o querem (não é Red Hot Chili Peppers?).
Por este ano está feito e que bom que seria se um concerto de Slow J se tornasse uma tradição do Super Bock Super Rock? Agora rumo ao palco principal, porque cada ano seremos mais, para ver este talento bruto que bem avisou que um dia iria fazer ao Rui Veloso o que o Ronaldo fez ao Figo.