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Último dia de Super Bock em Stock e não vamos guardar o melhor para o final: Tim Bernardes foi o autor de um dos concertos mais encantadores desta edição do festival. Nem sabemos muito bem por onde começar os elogios à hora mágica que se viveu no Teatro Tivoli, um convite a meia luz para a intimidade do quarto do paulista, que nos abriu a porta para esse seu mundo de onde nascem as mais belas canções de amor. Uma voz imaculada que a boa acústica do teatro respeitou, um público sereno e arrebatado nos momentos certos, até no entra e sai característico do festival, e aquela humildade desarmante de que só os verdadeiros artistas são capazes.
Sozinho ao piano e guitarra, ofereceu-nos muitas músicas suas, músicas de Terno (“Volta” prendeu-nos o coração) e outras emprestadas aos seus heróis – quem arriscaria dizer que “Changes” dos Black Sabbath e “Paralelas” do brasileiro Belchior seriam capazes de casar na perfeição? Coisas que a Tim Bernardes fizeram todo o sentido dentro das paredes do seu quarto e que a nós, ali naquela noite, fizeram também quando ouvimos a sua apaixonada interpretação ao piano. Já quase no final da sua hora de concerto, perto das 21h30, pergunta-nos em tom de brincadeira que horas são, ouve-se um grito na plateia: “são oito!”, e como todos gostaríamos de ter o poder de atrasar os ponteiros a esse relógio ingrato, para podermos ficar só mais um momento no embalo da sua doce voz. “Volta logo, volta”, Tim Bernardes, que nós estamos te esperando desde que nascemos.
Falemos então de outras boas surpresas neste último dia de festival: SP Deville mostrou ao início da noite porque é um dos artistas que importa manter no radar, como é que ainda não tínhamos chegado até ele é de facto a nossa maior surpresa – falha nossa e de todos os outros meios que o ignoraram e não o souberam trazer até nós. O que é que impede SP Deville de estar num palco maior do que os discretos bastidores do Capitólio? Simplesmente o seu nível de exposição ao público porque de resto o talento está todo lá, o rapper, músico, produtor, construtor de beatbox, que nos surpreendeu até com uma inusual cover de “My Girl” dos Nirvana no passado sábado, tem música e presença de palco para ombrear com qualquer outro nome mais sonante do alinhamento deste Super Bock em Stock. Esperamos vê-lo em voos mais altos num futuro próximo.
Quem descolou da pista e está em subida exponencial é Dino d’Santiago. O rapaz de Quarteira que encontrou recentemente no criolo a sua voz (uma descoberta que agradeceu ao seu pai, no passado sábado, quando este lhe ofereceu outros horizontes ao trocar o Algarve por Cabo Verde), encheu a Casa do Alentejo de calor. Saímos um pouco mais cedo, numa corrida para Tim Bernardes, e foi a muito custo que conseguimos atravessar as escadas à saída, de tanta que era a gente que queria ver Dino. Por duas vezes ficou provado, com Dino d’Santiago e Fogo-Fogo na noite anterior, que a Casa do Alentejo, embora seja dos espaços mais bonitos do festival, não chega para toda a gente que se quer soltar ao som dos ritmos cabo-verdianos. E já que falamos dos espaços do festival, nota negativa para a Sala Ermelinda Freitas no Maxime, onde o palco tem de competir com as animadas conversas do bar, e que nos dificultou a vida para ver Janeiro com a atenção merecida.
Se começámos pelo melhor, para o final sobraram algumas desilusões neste último dia do Super Bock em Stock. Rejjie Snow teve tudo para dar um dos concertos da noite, mas simplesmente não cumpriu. Recebido com casa cheia (repetiu-se o cenário da noite anterior do concerto de Masego com a fila da entrada do Capitólio a chegar à avenida) o rapper que só apareceu em palco largos minutos depois de um DJ set de aquecimento, onde músicas como “Praise The Lord” de A$AP Rocky ou “No Stylist” de French Montana até elevaram a energia, mas que no decorrer da actuação o irlandês não conseguiu segurar. Repetir “Lisbon”, “Lisbon”, “Lisbon” até à exaustão não chega para convencer ninguém de que se está a vibrar em palco e falta também qualquer coisa a Rejjie Swow (atitude? pujança? personalidade?) para conseguir ter uma hipótese sequer de reclamar ao Capitólio momentos tão brilhantes como os que vimos na noite anterior do maestro Masego. Perto do final “Flexin”, com incentivo um tanto forçado por parte do rapper e DJ, ainda colocou as filas dianteiras em ebulição, mas a sala já se despia a um ritmo rápido, com muitos provavelmente a caminho do coliseu para o último concerto do festival.
Jungle era o nome mais esperado da noite e aquele que terá certamente convencido muita gente a comprar bilhete para este Super Bock em Stock. O sucesso rápido dos Jungle explica-se por algum talento, por um som que ao disco de estreia soava a fresco com todos aqueles malabarismos de falsetos, por uma batida que anima qualquer festa e pista de dança, mas explica-se sobretudo por aquilo que é a grande máquina da indústria musical inglesa, que quando agracia um artista é capaz de o impôr ao resto do globo como ninguém. Espera-se, portanto, que um concerto dos londrinos seja infalível, e os inúmeros problemas técnicos que na noite de sábado interromperam o concerto da banda, que teve de abandonar o palco por duas vezes acendendo-se a luz sobre uma plateia desanimada (ao nosso lado um jovem já visivelmente agastado gritava “metam o CD a tocar e acabem isso!”), são infortúnios que sabemos bem podem ocorrer a qualquer artista, mas que na verdade não deveriam acontecer, muito menos a um cabeça de cartaz que deve ter comido uma das maiores fatias do bolo. Coube-lhes a sorte de encontrar um paciente público português, que em término de festival já só queria passar um bom bocado na pista de dança. “Heavy, California”, “The Heat”, “House in LA”, entre outras menos conhecidas e pulsantes, foram as cartadas fortes que conseguiram compôr o quadro final, evitando o despiste de pista, mas não era esta a recordação que queríamos levar connosco neste fecho de Super Bock em Stock.