Reportagem


Super Bock Super Rock

Rock e consciência social imperaram nos dois concertos maiores deste segundo dia de Super Bock Super Rock.

Parque das Nações

15/07/2016


Rock e consciência social imperaram nos dois concertos maiores deste segundo dia de Super Bock Super Rock, o de Iggy Pop e o de Massive Attack acompanhados pelos Young Fathers. Um dia que amanheceu a tentar fazer sentido de mais um trágico incidente terrorista, uma realidade à qual nos vamos ajustando de maneira assustadora e que tentámos alhear do pensamento com mais alguns concertos e convívio, até ao momento em que os Massive Attack entram em palco e nos esmagam o espírito ao colocar todas as perguntas certas, aquelas que incomodam, aquelas que não sabemos ou que não temos coragem de responder.

“Are you in control?”, “Who decides what you see?”,  “Who are you?”, são apenas três das muitas questões que vão desfilando pelo ecrã de maneira muito mais rápida do que a nossa retina consegue processar. Pelo meio bandeiras de partidos políticos (possíveis culpados?), misturados num rol de imagens de celebridades e de cabeçalhos de notícias fúteis que povoam os nossos dias, distraindo-nos da verdade que interessa. Em pano de fundo a música dos Massive Attack, sim quase que nos esquecemos dos músicos ali em palco, de tão absortos que estamos no nosso pensamento e é mesmo esse o seu objectivo maior (os Muse teriam uma coisa ou duas a aprender com os britânicos em como transformar verdadeiramente um concerto em intervenção social). Há tempo para alguns clássicos como “Safe From Harm” e “Karmacoma” e, do novo EP, “Voodoo In My Blood” com os Young Fathers toma contornos apoteóticos. No final uma mensagem de esperança, “together we can succeed and create a more equal world”, queremos tanto acreditar mas é tão difícil quando ao deixarmos a MEO Arena já se grita por Éder outra vez e já se virou a página ao que acabou de acontecer. Assim segue o imediatismo dos nossos dias.

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O rock mais genuíno deste SBSR esteve a cargo de Iggy Pop. 69 anos, 69 anos… é o pensamento que mais nos assalta ao ver as suas loucas corridas pelo palco, naquele menear de anca retorcida que tememos que vá a qualquer momento estalar e nem o dizemos pela sua idade invejável, mas apenas porque movimentos daqueles podem aleijar qualquer pessoa. Rectifiquemos, “qualquer pessoa normal”, é que Iggy não é deste mundo, seguramente adquiriu poderes extraterrestres quando há algumas décadas atrás embarcou na nave de Bowie, que por ali nesta noite também é recordado em vários cartazes pela plateia. Entrada a pés juntos com “No Fun”, “I Wanna Be Your Dog” e “Passenger”, que resultaram em mosh pits desenfreados ainda nem Iggy tinha chegado à sua quarta cuspidela. Depois seguiu-se mais um rol de clássicos que só não matou a fome a quem foi um pouco enganado pela premissa da “Post Pop Depression Tour”. É que mesmo sabendo que não estaria acompanhado pelo trio de ases, Homme, Fertita e Helders, contávamos ouvir algumas faixas do seu último disco e só nos calhou mesmo “Sunday” a uma sexta-feira.

Ainda no rock Mac DeMarco também teve casa cheia debaixo da pala do pavilhão de Portugal. Completa liberdade em palco para fumar, para beber “Super Cock”, para uma rápida corrida à casa de banho, para tocar deitado, para se lançar descalço num crowd surf que por momentos achámos que o iria engolir, em resumo – anarquia total, sem nunca desleixar aquela música intemporal que agarra toda a multidão.

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Já os Bloc Party deram um concerto desconexo, como se esperava. A banda de Kele Okereke já sofreu tantas mutações desde o fantástico Silent Alarm de 2005 que mais valia que se assumissem com outro nome, que não os obrigasse a tocar os hits desta era. É que deve ser um sentimento agridoce perceber que o público só explode ao som de músicas como “Banquet” ou “Helicopter”, obrigando Kele a justificar-se com um “now something a little different” antes de introduzir a pop sintetizada de “One More Chance”.

Quem tocava ao mesmo tempo de Bloc Party era o londrino Kwabs que reuniu um público fiel no palco EDP. A ponte para Sam Smith é evidente, mas há uma doçura e soul na voz forte de Kwabs que são apenas suas. Antes passámos por PISTA com o seu som energético de contornos tropicais, ajudados por Alex D’Alva Teixeira a deixar tudo em palco e a apelar ao público para tornar a música portuguesa mais conhecida, e a trazê-la mais aos outros palcos deste SBSR – acrescentamos nós.

O dia teve ainda o regresso a Portugal do belga de raízes africanas Petite Noir que começou contido mas foi-se soltando ao longo do concerto, sempre encarando o seu público nos olhos, movendo-se com a agilidade de um gato. Ao vivo a sua voz poderá nem sempre ser muito fiel ao que nos habituou em disco, mas a sua sonoridade foi uma lufada fresca neste SBSR. Antes passaram pelo palco EDP os loucos Pás de Problème que a lembrar Emir Kusturica incendiaram o começo do segundo dia.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Vera Brito

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