Reportagem


The Dillinger Escape Plan

Uma locomotiva raivosa com morte anunciada

VOA

06/08/2017


Se é para terminar, que seja um corte definitivo e bem feito. As palavras do vocalista dos The Dillinger Escape Plan numa recente entrevista anteciparam o cenário de ontem. Nada ficou por dar. A despedida ficou naquele palco onde mostraram tudo o que têm. E tanto que foi. O corte foi feito de forma incisiva.

Com cerca de 15 minutos de atraso, a banda surgiu em palco elemento a elemento, sob uma luz ténue. “Portugal, it’s been too fucking long!”, grita Greg Puciato. Quem está no coração da plateia sente que o chão está prestes a rebentar. Atiram com “Prancer” e logo de seguida com a esquizofrénica “When I Lost My Bet”, ambas as faixas que abrem o álbum One of Us is the Killer e desde logo o que se vive é uma tempestade de emoções. As luzes que nos batem nos olhos com uma rapidez agressiva, o som all over the place, o público que se movimenta imparável e as nuvens de pó no ar. Um cenário apocalíptico.

Neste momento, ninguém está quieto. Vamos então a Miss Machine, um dos álbuns mais amados dos The Dillinger Escape Plan com “Panasonic Youth”. Há um ligeiro momento de acalmia com “Black Bubblegum”, no entanto a moldura humana salta equiparada com o refrão desta. Se achávamos que íamos ter um momento para respirar, nem por isso. Já estamos a ouvir “Milk Lizard”, cujo vídeo passava nonstop na MTV2, corria o ano de 2007 e sabemos-la de cor, não fosse a faixa mais radio friendly da banda.

“Surrogate” é a primeira amostra que ouvimos do novíssimo Dissociation e é o perfeito exemplo da versatilidade a que chega a voz de Puciato. Entre o melódico, quase sussurrado e os graves de revolta, o vocalista põe o coração em palco. Segue-se “Happiness Is a Smile” cheia de groove e dada ao headbang, para dar lugar a um dos pontos fortes do concerto em “One of Us Is the Killer” que começa com a sua intro melodiosa para rebentar pouco depois. É aqui que o público acompanha vocalmente, cantando o refrão até aos píncaros. Estamos aqui e lembramos-nos deste álbum como um dos melhores do ano de 2013.

“Nothing to Forget” começa calmamente, até que Greg Puciato nos pergunta “You got this?” quase sem darmos por ele e a faixa explode. E explode a plateia também. Em “Farewell, Mona Lisa” cantamos todos com Puciato “there’s no feeling in this place”, mesmo que isso fosse o que houvesse mais ali.

“Weekend Sex Change” volta ao passado, a Calculating Infinity e “Hero of the Soviet Union” repõe o fôlego e o pó no ar. “Sunshine the Werewolf” é uma boa surpresa mas é com “Limerent Death”, um tema do novo álbum e “43% Burnt”, um tema do primeiro álbum que se rompem goelas e se agitam os punhos no ar.

E assim acaba. Primeira e última vez para muitos. Os The Dillinger Escape Plan podem não ser uma banda para todos os gostos, mas paixão é algo que se nota a milhas. Pode ter sido o fim, mas a hora e meia de ontem vai durar uma vida inteira.

Galeria


(Fotos por Paulo Tavares)

sobre o autor

Andreia Vieira da Silva

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