The Vaccines

O dia de ontem estava, confessamos, meio desenxabido, o anfitrião dos festivais de verão que este ano teima em não marcar presença presenteava-nos com um fresco céu cinzento, e as poucas pessoas pelo recinto no primeiro dia de Super Bock Super Rock auguravam um começo fraco para o festival. Mas até para os dias mais cinzentos existem abertas quando menos se espera, e ontem foram os “amigos” The Vaccines, vindos de Londres, por onde parece que o verão anda a curtir estas semanas, que chegaram a Lisboa e levaram o SBSR no bolso.

Antes que se levantem vozes indignadas em defesa de que o melhor concerto do primeiro dia, sem qualquer margem para dúvida, foram os outros londrinos The xx, ali ao lado pela mesma hora, calma que por aqui não existem verdades absolutas e se muitos não arredaram pé até ao último sopro dos The Vaccines para correr até à Altice Arena é porque nem todos procuramos as mesmas energias e experiências em concertos, e não há nada de errado nisso. The xx (também lá passamos) foi belo, foi emotivo, mas The Vaccines foi pujante, leve e libertador.

Ninguém tira o lugar de gajo mais fixe do rock ao Dave Grohl, mas hoje apraz-nos dizer que Justin Young é possivelmente o gajo mais fixe do indie rock (os nichos musicais afinal também dão jeito para estas liberdades). Sem grande conversa ou sentidas declarações de amor ao público português (foi bonito Romy, we see you and we love you too) apenas munido de um sorriso franco, de uma completa descontracção e energia contagiante, Justin Young conquistou tudo e todos aos primeiros acordes, até aquelas quatro very important people ali no fosso que o SBSR teima em manter em frente dos palcos.

Em disco as fórmulas musicais imediatas e despojadas dos The Vaccines, parecem-nos acusar já algum cansaço em 2018, faltou-lhes sempre aquele som mais refinado capaz de os fazer nos dias de hoje ainda uma banda de relevo, como os The Strokes, por exemplo. Ao vivo no entanto a conversa é outra, não houve uma música do set de ontem que não nos fosse familiar, nem as mais recentes “Surfing in the Sky” ou “Nightclub” de Combat Sports, editado este ano, muito menos os êxitos instantâneos do mais antigo Come of Age, como “Teenage Icon” ou “Bad Mood”, que foram motivos de histeria no público. O momento alto foi para “Post Break-Up Sex”, um dos hino dos The Vaccines e aquele penso rápido para qualquer coração partido “that helps you forget your ex”.

Um concerto rápido e intenso, à boa moda punk, que nos deixou tão leves e revigorados que fez até com que rumássemos para The xx algo contrariados, não nos interpretem mal, não temos nada contra o doce par Romy e Oliver, muito menos ainda contra o mago Jamie xx, a verdade é que o nosso coração simplesmente não estava disponível ontem.