//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
A espera mais longa acabou e o dia do ano mais desejado chegou por fim quando, na passada terça-feira, os Tool subiram ao palco da Altice Arena, completamente esgotada e febril.
Foram 13 longos anos, sem grandes promessas ou garantias de um regresso aos palcos e aos discos, sempre reservados e enigmáticos, em tempos em que ninguém parece já saber viver sem acesso imediato a toda a informação, impressiona, portanto, como os Tool têm conseguido manter, como talvez nenhuma outra banda ou artista, tantos fãs e com tamanha devoção numa corda bamba de expectativas, durante tanto tempo. À saída do concerto apanha-se numa conversa alheia alguém exultar “isto é uma religião!” e de facto não nos ocorre melhor palavra para descrever o que ali aconteceu naquela noite.
Nas suas raras aparições (até as do passado parecem agora memórias distantes quase irreais) a banda de Maynard James Keenan e companhia, fundada nos idos anos 90, sempre envolta numa penumbra de mistério, quer pela privacidade que tem obstinadamente conseguido manter, quer pela sua forma algo estranha e alienígena de comunicar, assemelha-se mais a uma entidade divina, que só pode ser adorada com o mesmo fervor de uma religião, do que a quatro músicos de carne e osso, ali diante de nós – e até porque a exímia execução musical de todos parece ser, ela também, coisa de outro planeta.
A poucos minutos antes do concerto começar sente-se a electricidade no ar, trocam-se olhares ansiosos por entre o público, onde imperam o preto e as letras góticas – na falta de uma t-shirt da banda, serve qualquer outra desde que nos identifique como membros de uma tribo mais pesada – e o desfile de nomes de bandas, cartazes de festivais, é entretenimento para os nossos olhos enquanto esperamos que a banda de L.A. suba ao palco e nos certifique de que na sua tribo não cabe, afinal, nenhum outro nome dos que vimos por ali.
Arranque potente com “Ænema”, viagem a 1997, depois do manifesto de “Third Eye Intro” ter aberto portas para duas horas onde se pedia: “think for yourself” e “question authority”. A setlist já era previsível (tem sido constante em todos os concertos desta digressão), mas a falta de factor surpresa não pareceu deixar ninguém insatisfeito. A impressionante e bizarra componente visual, desde a cortina que desceu sobre a banda nas primeiras músicas, o ocultismo do heptagrama que coroou o palco, aos feixes de lasers e vídeos surreais, algo extraterrestres, foram surpresas constantes durante todo o concerto, que complementaram na perfeição toda a inquietação com que a música de Tool nos deixou, roendo-nos os nervos. Inquietação essa que, no dia a seguir, ainda nos perseguia como uma sombra escura.
Segue-se “The Pot”, do derradeiro 10,000 Days, com os primeiros versos cantados, a peito aberto, por uma multidão que via finalmente materializado um sonho de anos. O arrepio é colectivo, de contágio total até para quem tivesse acabado de aterrar de pára-quedas na Altice Arena. De Maynard James Keenan apenas se ouviu um “Lisboa!” e mais algumas parcas declarações de apreço ao público português, já pelo final da noite, e não foi, na verdade, preciso muito mais para estabelecer um entendimento perfeito com milhares de pessoas. Se há bandas em que se sente falta em concerto de um frontman falador, não é caso dos Tool. Recuado ao fundo do palco, de megafone à cintura e cabelo punk, Maynard ocupa um lugar igual aos seus companheiros de banda, não procurando sequer o contacto visual com a plateia. Aqui não há estrelas, a máquina é uma unidade só, nem mesmo quando Danny Carey ameaça destruir a bateria na “Forty Six & 2”, antes de seguirmos para um intervalo com um countdown preciso, onde “30 de Agosto” brilhou novamente nos ecrãs (outra constante desta digressão), reafirmando aos crentes que já falta pouco para a “sexta-feira santa” de nova edição.
Para além dos muitos regressos ao passado pelos quatros discos da banda, viveu-se também um concerto “à antiga” com a proibição de registos de vídeo e fotografia a ser respeitada pela maioria dos presentes. Se no início os dedos até coçavam com vontade de arriscar um pequeno registo da noite, no final, quando Maynard levantou a proibição, até nos pareceu algo despropositado pegar no telemóvel. A demolidora “Stinkfist” fechou a setlist obrigando Adam Jones a uma troca relâmpago de guitarra (até os instrumentos sucumbem) e deixando-nos a todos com vontade de mais, embora o segundo encore tenha sido impossível de arrancar. Afinal, a espera foi longa e parece-nos que sempre que se fala de Tool sabemos que: “It’s not enough. I need more. Nothing seems to satisfy.”.