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Não era certo que desse para fingirmos que nunca tínhamos saído da faculdade e que os Vampire Weekend ainda eram “cool”, mas já durante a abertura dos Dinamarqueses Liss a plateia se via pouco generosa para quem entrava: em pé já não dava para chegar a lugares mais interessantes e os lugares sentados já só se viam consideravelmente dispersos.
Simpáticos e com a juventude demasiado presente para quem ali estava para a recordar, os Liss conseguiram pôr-nos a dançar sem ser por simpatia, evitando o clássico frete da abertura. Afinal, não destoam assim tanto de Vampire Weekend, antes fazendo o mesmo piscar de olhos aos anos 80, mas apostando mais no synthpop que no indie rock. A cada metro quadrado, três amigos e, no palco, um globo gigante haveria de girar a noite toda, em consonância com a capa do disco “Father of the Bride”, mote para a digressão Europeia que aqui terminava e inevitável referência à globalização e ao tempo em que ela acontece.
Os Vampire Weekend arrancaram com “Flower Moon”, deste último álbum, mas rapidamente recuaram até ao início da década para nos lembrarem do hit “Holiday” (Contra, 2010) e da simpatia de Ezra Koenig, aquele miúdo betinho que podia ter andado na escola connosco e agora esfregar-nos na cara que, entre esse período e este, para além de se consolidar como estrela de rock à escala mundial, criou uma série animada para a Netflix, foi creditado em “Lemonade” de Beyonce, andou pelos Estados Unidos a tocar nos rallies de Bernie Sanders, teve um filho com a namorada Rashida Jones, e agora está à nossa frente a tentar o melhor Português para agradecer a recepção a Lisboa (o próprio faria notar que repetiu “Obrigado, Lisboa” a noite toda). Interactivo e conversador, lembrou-nos que, embora tivessem tocado em Portugal este Verão, no NOS Alive, fazia mais de 9 anos que não davam um concerto nestes termos e nesta cidade e que, portanto, havia muita canção por tocar.
Com “Bambina” (Father of the Bride, 2019) fica claro que ninguém perdeu o contacto, já que toda a gente conhece a letra e vai aquecendo os passos. “Unbelievers” e “Everlasting Arms” fazem-nos pensar que “Modern Vampires of the City” (2013) teria merecido interpretação ao vivo mais cedo, de facto. Ezra pede e replicamos todos que Blake tem nova cara, e em “Sympathy” estamos mais que lançados na dança, apesar do parco espaço deste Coliseu e das irregularidades rítmicas que caracterizam a música da banda.
Um momento mais instrumental em “Sunflower” preparou a festa que se fez para os existenciais “This Life” e (nota também para a maravilhosa introdução de) “Harmony Hall”, provavelmente os temas e as letras mais bonitas de um disco que, talvez mais do que os outros, reflete as angústias do seu/nosso tempo.
“Anger wants a voice, voices wanna sing
Singers harmonize till they can’t hear anything
I thought that I was free from all that questionin’
But every time a problem ends, another one begins.
(…)
Anybody with a worried mind could never forgive the sight
Of wicked snakes inside a place you thought was dignified
I don’t wanna live like this, but I don’t wanna die”
Não faltou “Diane Young”, “Cousins” ou “Oxford Comma”. “A-Punk” e “Giving Up The Gun”. O Coliseu sorria e saltava até ao encerrar da setlist inicial com o melancólico “Jerusalem, New York, Berlin”. Este tema faz referência à Declaração de Balfour, momento-chave no conflito Israelo-Palestiniano, e a três lugares marcantes para o povo Judeu e a religião de Koening. O preciosismo das referências históricas é uma das características mais interessantes nesta banda (apesar das críticas que deram nome a uma das músicas da noite, sobre ser) “insuportavelmente branca”. Para além do som característico a cujas variações de ritmo e diversidade estilos aludimos atrás, a globalização esteve sempre presente, portanto, quer musical, quer liricamente, se tirarmos partido desta década de relacionamento e a ouvirmos em retrospectiva. A banda introduziu a world music no indie rock e começou por apresentar canções com referência a acontecimentos históricos, explorando lugares e episódios e temas (demasiado) reais para a ligeireza com que são musicados, mas também mais ricos e originais por isso.
De regresso para o encore, “Mansard Roof” e “The Kids Don’t Stand a Chance” foram alguns dos pedidos do público, e em “My Mistake” um sortudo cidadão de Nápoles (“Giacomo from Naples“) seria o escolhido para se juntar à banda em palco e faria um brilharete ao piano que nos deixou aliviados por estarmos tão cá atrás e não haver hipótese de sermos postos à prova desta maneira.
A banda terminou com três temas da sua escolha “Worship You”, “Ya Hey” e “Walcott”, expressando o desejo de regressarem com maior brevidade que da última vez.
Até lá, é enganar a vida e o sofrimento e esperar que a próxima década (a iniciar em “2021”) pense em nós.