//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Em muitos aspectos o nosso país irmão bem podia estar nas antípodas de Portugal. Se por um lado, nos dias que correm, está toda a gente e o cão agarrada ao Netflix a ver a “Casa de Papel”, por outro, bem podemos apontar uma arma a alguém até que nos digam o nome da maior banda espanhola do momento que não ficamos a saber mais.
São os Vetusta Morla a maior banda espanhola do momento? Às tantas. Não fazemos a mais pálida ideia. Sabemos que o trabalho de relações públicas em Portugal está a fazer horas extra: Alive em 2016, notícias da imprensa sempre que cá vêm, tempo de antena no Jornal 2 da RTP, etc. O suficiente para nos perguntarmos se estivemos nós a dormir de baixo de uma pedra.
Os bilhetes para o HardRock no Porto esgotaram, em Lisboa, numa sala generosamente maior, o cenário foi outro. O Coliseu estava ligeiramente acima de meia-lotação. Não é desconfortável de ver, porque as pessoas se distribuem bem, e é o cenário ideal para quem quer dançar ( ou ficar na bancada a tirar notas num caderninho).
Antes das 22 horas o Real Madrid torna-se Hokage de Espanha, ou qualquer coisa nessa ordem de magnitude, e rompem da plateia cânticos de “campeones, campeones”. Vamos arriscar que o público seria 35% de língua castelhana. Se os madrilenos no backstage também estariam a festejar não sabemos, mas 15 minutos depois ei-los, recebidos em palmas a lançarem-se sobre a etéra faixa homónima de “Mismo sitio, mismo lugar.”
A noite foi sobretudo de festa daí em diante. O público era um misto de idades dos 5 aos 40, mas estava investido no concerto e parecia saber quando tinha que emprestar a sua voz aos temas. A banda era um pilha de energia que se espiava sobretudo via o adolescente bigode dançante que entregava a voz ao criador como se não houvesse amanhã. Pucho tem poucos registos baixos na voz – é só treble -, mas parece não ter limites no sentido inverso. É, também, um “frontman” no sentido performativo do termo. Podia fazer a festa sozinho se quisesse e dançava, fazia shadowbox, fazia coreografias de Fortnite sem um pingo de embaraço.
Mais importante, é a voz da humildade da banda. “ Boa noite, Lisboa. Boa noite, Portugal,” dizia na sua primeira interação com o público. (Não estão a traduzir, foi tudo em português.) “É um prazer voltar a esta bela cidade. Agora podemos dizer que estamos no mesmo sítio, num diferente lugar.”
Os Vetusta Morla são uma banda simpática. Tudo neles parece dizê-lo. A julgar por esta amostra, aprendem o suficiente sobre o publico e o país que os acolhe no momento para se poderem relacionar, são extrovertidos, parecem divertir-se uns com os outros, apelam à paz e aos consensos ( é possível que estivessem a falar sobre a situação política da Cataluña, mas nunca especificaram) e são pop-rock fácil de ouvir dissimuladamente ambicioso. O que é sempre bom para os snobs musicais que escrevem sobre música porque lhes dá algo para dizer. Gabavámos o ritmo quase “salsesco” de “El discurso del Rey” e como conjugava o overdrive saturado da guitarra, mas acabámos por dar a medalha de MVP à “La Vieja Escuela” e aos seus laivos de Muse-lite.
O andamento do concerto, foi no geral, bem conseguido. A segunda metade do set principal sofreu um pouco com uma sequência prolongada de temas mais calmos que só seria interrompida com “Te lo Digo a Ti” e “Fiesta Mayor”, que ditaram a saída de palco para o encore.
Voltariam com “Consejos de Sabios” e elogios. “Muito obrigado. Chegarmos aqui a Lisboa foi um sonho,” e mencionava-se o desejo de tornar as passagens por Portugal uma constante dos itinerários de digressão. O concerto termina com “ Los Días Raros” que pôs o Coliseu em píncaros de decibéis que noutras noites lotadas nunca alcançou. Por isso, palmas para o público também que recebeu da banda todo o amor possível ( particularmente aqueles que atravessaram a fronteira) e que mereceu a noite que teve. Duas horas de música, sem palha.