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A memória de Charles Bradley esteve bem viva neste Vodafone Mexefest, pelo menos para todos aqueles que no último dia do festival se emocionaram e se divertiram com o documentário Charles Bradley: Soul of America, exibido no Cinema São Jorge. Durante cerca de uma hora acompanhámos de perto o coração gentil de um dos maiores fenómenos que a soul conheceu, uma estrela cadente que rasgou a música num clarão que teve tanto de rápido como de ofuscante. Egoístas, à saída da sala, lamentamos não ter visto ali em palco hoje o homem que em tão pouco tempo nos deu tanto.
Um dia de festival que prometia muitos outros momentos melancólicos. Mesmo na excitação da longa fila que se formou à porta do Coliseu dos Recreios, para os muito aguardados Cigarettes After Sex, acreditamos que ninguém iria ao engano de que uma vez lá dentro encontraria a atmosfera monocromática de autocomiseração a que a música dos texanos convida. Como é que a inexpressão, que pode bem ser confundida com uma apatia mecanizada, de Greg Gonzalez e restantes companheiros de palco, que parecem ilhas isoladas entre si, conseguiu em tão pouco tempo uma legião de fãs devotos em Portugal, é um fenómeno que ainda aguardamos que o tempo e novos álbuns tragam confirmação. Não que não apreciemos a sua dream pop em dias mais cinzentos, e confessamos até que aqueles acordes iniciais de “K” nos fizeram exalar um suspiro, que logo se perdeu no burburinho das conversas, que nem precisaram de um tom muito alto para abafar o som (acreditamos que propositadamente?) low-fi com que a banda murmurou infortúnios de amor no coliseu.
E não estamos seguros se terá valido a pena interromper o bonito concerto que Luís Severo oferecia mais acima, no centro do palco do Teatro Tivoli. A maturidade com que agarra as suas histórias ao frágil mas imponente piano de cauda, contradizem a cara d’anjo, que ainda não há muito tempo víamos em palco como Cão da Morte, destacando-se dessa nova geração de músicos portugueses a que muitos apelidaram de filhos de B Fachada.
Ainda nos concertos mais serenos para o último dia do Mexefest destacou-se o duo electrónico Haēma. Um concerto intimista, na meia luz da sala mais pequena do Cinema São Jorge, com paisagens bucólicas e colagens ao tradicional, como a memória de Fausto, com sulcos de electrónica minimalista e avant-garde, bem ao estilo do festival.
Ao Cine-Teatro Capitólio rumámos para ver o conjunto mais mafioso do hip hop em Portugal, Conjunto Corona, que exultou a “nação” de Gondomar, com o patrocínio do Hidromel Runas, não sem antes distribuir alguns chinos no olho e lições de geografia, a uma plateia visivelmente divertida. Umas horas mais tarde na mesma sala o hip hop português voltaria a ser rei com Allen Halloween e a sua kriminal família a mostrar que já não existem linhas a separar as periferias das artérias principais da cidade. Odivelas entrou Avenida da Liberdade adentro sem cerimónias para um dos melhores concertos do festival.
Despedimo-nos deste Mexefest com o casamento mais frenético ao qual já fomos convidados, o concerto dos Liars. A igreja – a Estação Ferroviária do Rossio, a noiva – Angus Andrew, o noivo – ninguém sentiu a sua falta. Descargas cavalares de noise punk rock electrónico dias depois ainda latejam as têmporas como qualquer ressaca de um casamento digna de memória.