Jon Polito: Um discreto pilar de voz rouca

por José V. Raposo em 12 Setembro, 2016

2016 soma e segue no que à Foice diz respeito. Jon Polito, um dos grandes e subvalorizados actores de televisão e cinema do nosso tempo, deixou-nos após seis décadas e meia neste mundo – três e meia de representação em cinema e televisão e um pouco mais no teatro, no qual ganhou um prémio Obie com apenas trinta anos. Nascido a 29 de Dezembro de 1950 em Filadélfia, por ali ficou até ao fim do curso de Teatro na Universidade de Villanova – frequentou-a dez anos antes de Howie Long, o destruidor virado actor que celebrizou o outro grito cinematográfico para além do grito Wilhelm.

 

Fazendo carreira em pequenas produções teatrais em Nova Iorque (dentro e fora da Broadway), Jon Polito estreou-se no cinema em 1981, na versão cinematográfica de Gangster Wars, mini-série televisiva da NBC na qual protagonizou o importante papel de Thomas Lucchese. A partir daí, tornou-se num dos actores mais trabalhadores do cinema e televisão norte-americanos, colhendo mais de duzentos créditos em séries como (sentem-se e refastelem-se, que a lista é longa): Miami Vice, Wiseguy, Murder, She Wrote, Crime Story, Seinfeld, Dream On, Roseanne, Nash Bridges, Scrubs, NYPD Blue, New York Undercover e It’s Always Sunny in Philadelphia.

Contudo, foi em Homicide: Life on the Street (1994), série marcante (e parente na linha recta de The Wire) baseada no magnífico livro de David Simon, que atingiu o ponto mais alto na televisão, interpretando a personagem do detective Steve Crosetti, um ítalo-americano conservador, religioso e zeloso no seu trabalho. Em apenas duas épocas, a sua personagem tornou-se de tal modo influente que acabaria por moldar toda uma temporada da série.

polito

No grande ecrã, foi titular em cinco obras dos irmãos Coen. Ajudou a tornar Miller’s Crossing (1990) num dos grandes filmes da segunda metade do século XX, interpretando o frenético, bojudo e boçal capo mafioso Johnny Caspar (“metam sempre um tirinho na mioleira!”, recomendava ele), que pretendia desafiar a ordem estabelecida e subir na cadeia alimentar do crime. No ano seguinte, participou em Barton Fink, em 1994 em Hudsucker Proxy, ambos em papéis menores nos quais deixou marca.

Já em The Big Lebowski (1998) deu uso ao seu talento para trejeitos através da personagem do detective privado Da Fino, montado no seu Volkswagen e com um melindre que fez recordar o grande filósofo norte-americano George Costanza. Terminou a colaboração com os Coen em The Man Who Wasn’t There (2001), no qual a voz rouca da sua personagem, Creighton Tolliver, iludiu o barbeiro (Billy Bob Thornton) que lhe tratava do substrato capilar e da manutenção do chinó.

Fez ainda vozes de séries animadas e de jogos de vídeo. A carreira de Jon Polito é a prova pleníssima de que não se precisa de grandes troféus e de se ser bonito para se ser um grande actor. Mais parecendo um tasqueiro bem português ou ítalo-americano – careca e de bigode ligeiramente mais aparado do que o do típico taberneiro/taxista/padeiro –, arrebatou-nos de tal maneira e durante tanto tempo que daqui por uma década ainda estaremos a lembrar papéis de Jon Polito, um discreto pilar de voz rouca que tornou dezenas e dezenas de filmes e séries melhores com a sua presença e talento.


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José V. Raposo

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