Kenji Mizoguchi : A influência do cineasta japonês em Paulo Rocha

por Arte-Factos em 12 Outubro, 2018 © O INTENDENTE SANSHO de Kenji Mizoguchi

Kenji Mizoguchi é o realizador em retrospectiva na 3ª edição do festival de cinema que decorre em Vila Nova de Famalicão de 13 a 20 de Outubro.

Numa abordagem refrescante, a organização procura demonstrar os caminhos entre o cineasta japonês e algum cinema português. Lê-se no site do festival (FONTE):

O primeiro filme japonês que Paulo Rocha terá visto não foi de Kenji Mizoguchi, antes Jigokumon (Amores de Samurai, 1953) de Teinosuke Kinugasa numa sessão de ante-estreia no final de 1955, no Porto.

O jovem Paulo Rocha, defronte de tão exóticas imagens, terá iniciado logo aí o seu fascínio pela Ásia, em particular pelo território do Japão. No entanto, será só em Paris, enquanto estuda no IDHEC, que Rocha descobrirá a obra de Mizoguchi – quando este acaba de se tornar conhecida no ocidente após os três galardões no Festival de Cinema de Veneza em 1952, 1953 e 1954 (respectivamente por A Vida de O’Haru, Contos da Lua Vaga, O Intendente Sansho). “Fiquei siderado” escreveu o realizador. E já em Lisboa, no famoso Vá-vá, enquanto se discutiam revoltas estudantis, Godard, Truffaut e Resnais, para Paulo Rocha só interessavam os melodramas do cineasta japonês. Após onze anos a viver no Japão e de ter aprendido a língua fluentemente (foi adido cultural da Embaixada Portuguesa e trabalhou dentro do sistema de estúdios japoneses – coisa inédita para um ocidental) Rocha regressou a Portugal, acabando por integrar o corpo docente da recém criada ESTC.

Nela transmitiu esse seu gosto pela cultura japonesa, e em particular pela obra de Mizoguchi. Foram seus alunos vários dos cineastas que hoje preenchem o panteão dos autores consagrados. Entre eles Pedro Costa e João Pedro Rodrigues que, de forma mais marcada, vêm mostrando de que modo esses longínquos ensinamentos da sua juventude ainda se fazem sentir no seu trabalho.

Se a influência de Mizoguchi é mais do que evidente nos filmes que rodou no Japão – nomeadamente na utilização do plano-sequência – ela está também presente, de forma muito inocente, nas suas duas primeiras longas-metragens, em especial na segunda, Mudar de Vida (1966). Uma influência que se manifesta mais na atmosfera social e pictórica do filme do que nalgum exercício de citação. E claro, no retrato das mulheres. E aqui Rocha apresenta Isabel Ruth, a sua Machiko Kyo (como lhe chamou Bénard da Costa). Esta é uma oportunidade de ver alguns dos títulos mais marcantes do cineasta nipónico juntamente com as obras dos “imberbes verdes anos” do mais “mizoguchiano” dos cineastas japoneses. (RVL)

No dia 20 de Outubro, decorre na Casa das Artes de Famalicão a conversa “MIZOGUCHI & ROCHA”. Em nota no site, faz-se o seguinte enquadramento:

É comum dizer-se que Mudar de Vida (1966) de Paulo Rocha é o filme mais mizoguchiano do cinema português, mas o que quer isso de facto dizer? Nesta conversa proponho uma análise da influência do cinema de Kenji Mizoguchi no cinema de Paulo Rocha, segundo as palavras do próprio Rocha. Em particular a influência no filme de 1966, que antecedeu a sua temporada de 11 anos no Japão como adido cultural da Embaixada Portuguesa — intervalo no qual realizou as suas duas primeiras obras propriamente japonesas, A Ilha dos Amores (1982) e A Ilha de Moraes (1984). Esta será então uma conversa que girará em torno de dois grandes cineastas, um português e outro japonês, de duas gerações muito diferente, onde o primeiro tomou o segundo como mestre incontornável. Será menos sobre a influência directa do cinema de Kenji Mizoguchi no cinema de Paulo Rocha e mais sobre o modo como Rocha olhou a obra do realizador nipónico e dela retirou ensinamentos profundos sobre o cinema, e também sobre a vida. (RVL)

Filmes a exibir no Close-up:

  • 13 Outubro: Os Amantes Crucificados de Kenji Mizoguchi (1954)
  • 14 Outubro: O Intendent Sansho de Kenji Mizoguchi (1954)
  • 15 Outubro: Mudar de Vida de Paulo Rocha (1966)
  • 15 Outubro: Allegoria della Prudenza de João Pedro Rodrigues (2013)
  • 16 Outubro: Contos da Lua Vaga de Kenji Mizoguchi (1953)
  • 17 Outubro: O Sangue de Pedro Costa (1989)
  • 20 Outubro: A Rua da Vergonha de Kenji Mizoguchi (1955)

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Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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