Leonardo DiCaprio: Uma carreira brilhante em análise

por Arte-Factos em 20 Maio, 2013

Preferências à parte, DiCaprio é um dos melhores actores americanos da sua geração. Em menos de 4 décadas de existência já deixou um enorme legado na sétima arte, brilhando em filmes dos mais conceituados realizadores norte-americanos, desde Christopher Nolan, Sam Mendes, Danny Boyle, Steven Spielberg, Martin Scorsese ou Quentin Tarantino (e a invejável lista continua!). Mas é o seu reencontro com Baz Luhrmann, quase 20 anos depois, que suscitou o interesse para uma análise da sua carreira, desde o miúdo que vimos em Romeo + Juliet (1996).

DiCaprio passou do pequeno para o grande ecrã em 1991, no filme de terror de baixo orçamento Critters 3. Foi, todavia, em 1993, contracenando com Johnny Depp em What’s Eating Gilbert Grape, que surpreendeu o público e a crítica com a sua espantosa interpretação que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário, com apenas 19 anos. Desde então, a sua carreira foi incansável e repleta de boas escolhas, reflectindo a inteligência de um actor que apenas se envolve com argumentos que realmente o apaixonam.

Foi em 1996 que DiCaprio conheceu o seu primeiro grande sucesso de início da carreira: Romeo + Juliet podia não ser o filme que queria associar à sua carreira, mas Luhrmann acabou por convencê-lo a dar vida à voz shakespeariana, adaptando o filme e as personagens à imagem do actor californiano. Ainda em 1996, contracena em Marvin’s Room com grandes actores como Meryl Streep, Diana Keaton e Robert DeNiro – e mesmo assim consegue destacar-se graças à sua interpretação. Claro que menos de um ano depois estaria DiCaprio a entrar no círculo dos chachets milionários, com o mega sucesso planetário e financeiro do Titanic de James Cameron. O actor quis fazer parte desta mega produção, que acabou por mudar o rumo da sua carreira e marcar para sempre a história do cinema. Mas se para uns isto os tornaria confortáveis no seu lugar milionário, aceitando fazer papéis aleatórios, DiCaprio sempre mostrou grande perspicácia nos papéis que aceitava – especialmente a partir do momento em que ganhou o estatuto de um dos mais respeitados, admirados e poderosos actores de Hollywood.

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É, ainda assim, espantoso observar o quanto evoluiu desde o Romeo ou o Jack Dawson em Titanic. Não se deixando enganar por estes papéis mais populares e românticos, o actor soube aproveitar o seu potencial e a sua maravilhosa versatilidade desde então. Em 2000, associa-se a Danny Boyle para dar vida ao misterioso e fascinante Richard que descobre e enlouquece em The Beach – um filme que ganha sobretudo pela sua interpretação pessoal como fio condutor da película. Esta mestria de interpretação é sobretudo consolidada com Martin Scorsese e Steven Spielberg, em dois fantásticos filmes de dois grandes realizadores, lançados ambos em 2002. Se em Gangs of New York começa a conquistar um lugar querido junto da crítica, em Catch Me If You Can, com Tom Hanks, a sua interpretação é genialmente envolvente, com um tanto de comédia descontraída quanto de intenso dramatismo, conferindo uma naturalidade estonteante e fascinante ao papel do golpista Frank Abagnale Jr., num filme que apetece sempre rever uma e outra vez.

É, contudo, em 2004, que Leonardo DiCaprio alcança o auge da primeira década do milénio. The Aviator tem tanto de perturbador como de genial, e tudo graças à encarnação do complexo e inquietante Howard Hughs, cuja ambição cria um enredo dramático sublime – valendo-lhe uma segunda nomeação aos Óscares da Academia, primeira para Melhor Actor. É verdade que por trás está também presente um talentoso Martin Scorsese, já com alguma intimidade com a jovem estrela, que resultaria em muitos e excelentes filmes juntos… mas é DiCaprio que valoriza ainda mais o filme com a sua versatilidade de interpretação – que se confirmaria dois anos mais tarde com o mesmo realizador em The Departed, que alcança o sucesso com um papel mais sério e evolutivo. Ainda neste ano o actor recebe nova nomeação para o Óscar de Melhor Actor, desta vez com o apaixonante Danny de Blood Diamond, outro dos melhores filmes da década, tragicamente cativante – mas, mais uma vez, a Academia deixa-o pela nomeação. E nessa década mais nada deveria ser mencionado, uma vez que Body of Lies e Revolutionary Road são as nódoas da sua carreira, com papéis banais, esquecíveis e depressivos, e interpretações não más, mas não suficientemente cativantes para o estatuto já então adquirido.

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Mas uma nova década brotou, e com ela um novo Leonardo, renovado, mais sério, mais adulto, mais homem – a meu ver, a melhor fase da sua carreira. Com todo o seu charme e talento natural, o actor escolheu a dedo os projectos destes últimos e incansáveis três anos, com papéis fortes, uma imagem segura, e interpretações absolutamente extraordinárias e memoráveis dos filmes mais conturbadamente geniais do início desta década. A lógica de escolha de papéis do actor é já tão fiável, que qualquer filme que o integre no elenco será um filme que motiva a ida ao cinema. Qual é o actor que, em apenas três anos, reúne no reportório filmes como Shutter Island, Inception e Django Unchained, por exemplo? Destaque-se principalmente o primeiro, fruto da excelente parceria mais uma vez com Scorsese, que nos deixa ansiosos por novos projectos desta dupla. No entanto, em todos estes papéis DiCaprio brilha: seja como um Teddy Daniels investigando um estranho hospício, ou o talentoso e intrigante Cobb, implantador de sonhos, ou ainda J. Edgar, o tubarão do FBI. Mesmo no mais recente filme de Tarantino, no qual DiCaprio encarna o detestável Calvin Candie, proprietário de escravos no Mississipi, o versátil actor presenteia-nos com a sua inesquecível interpretação. São três anos de encarnação de excelentes personagens, desenhadas e aprofundadas nos seus pormenores mais dementes, e embora todas elas tenham mão de talentosos realizadores e argumentistas, o elemento comum de sucesso será sempre Leonardo DiCaprio.

Agora, Leonardo DiCaprio está de regresso às salas de cinema com The Great Gatsby, marcando o reencontro com Baz Luhrmann 17 anos depois, dando vida a uma outra grande obra literária, através de uma personagem bem ao estilo do actor: distinta, intrigante e extraordinariamente humana. Estranho não será dizer que o melhor deste filme é precisamente o Gatsby de DiCaprio…! O seu talento e versatilidade assombrosos construíram-lhe uma carreira admirável desde cedo, repleta de excelentes escolhas de papéis e ainda melhores interpretações pessoais. O seu crescimento como actor é também fantástico, com pouquíssimos falhanços, como o reencontro com Kate Winslet em 2008 – papel esse que com certeza seria ainda pior sem o seu cunho pessoal. Perspicaz e reservado, DiCaprio é hoje das maiores figuras de Hollywood, certamente o melhor actor que nunca chegou a receber o Óscar, e um alguém que admiro profundamente por nunca se deixar envolver em escândalos e fofocas de revistas cor-de-rosa para se fazer notar. Mas agora comunica-nos que só regressará daqui a 2 anos. Será?


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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