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Realizador, guionista e até actor, David Cronenberg goza um dos mais arrojados títulos do cinema contemporâneo: o de Baron of Blood, figura de proa de um género de filmes de terror que exploram a degradação física e psicológica, o chamado body horror. Desde 1966, assinou dezenas de curtas e longas-metragens, séries e telefilmes, e até anúncios de publicidade a marcas como a Nike ou os chocolates Cadbury.
The Fly é o seu trabalho mais reconhecido, um marco cultural de 1986, protagonizado por Jeff Goldblum, Geena Davis e John Getz,a segunda adaptação ao cinema de um conto de sci-fi com o mesmo título, publicado em 1957 na revista Playboy (sim, o Wikipedia confirma). Goldblum protagoniza um excêntrico cientista que conduz experiências com tecnologia de teletransporte. Acidentalmente, num teste em que serve voluntariamente como cobaia, uma pequena mosca entra para uma das cabines e o DNA de ambos acaba por se fundir. O corpo de Goldblum vai lentamente sofrendo mutações, assim como a sua personalidade, até à horrenda transformação completa. Um clássico do terror, que nunca vi sem recurso às mãos para cobrir os olhos nas cenas mais indigestas.
De resto, a década de 1980 foi muito produtiva para Cronenberg e na qual construiu uma legião de seguidores. Em The Dead Zone (1983), elevou o romance sobrenatural de Stephen King para outro nível, com Christopher Walken a interpretar um paciente que acorda de um estado comatoso, após cinco anos, com a capacidade de ver o passado e o futuro daqueles em que toca. Para além de ajudar a impedir crimes, o seu novo dom evita até uma guerra nuclear.
No mesmo ano, caberia a James Woods e Debbie Harry (dos Blondie) o papel de encabeçar o elenco de Videodrome. As personagens de ambos são responsáveis por conteúdos televisivos de elevada carga violenta e sexual, que provocam alucinações e danos cerebrais a quem os visiona. Intencionalmente ou não, Videodrome é uma perfeita metáfora sobre os efeitos secundários dos conteúdos sensacionalistas.
Na década de 1990, Cronenberg continuaria a explorar o thriller psicológico, sendo o controverso Crash (1996) uma das suas últimas incursões no terror explícito, protagonizado por James Spader. Fortemente criticado pelo recurso a imagens excessivamente sexuais e violentas, em que a narrativa que nos conduz pelo mundo do fetichismo associado aos acidentes de viação e às cicatrizes físicas e emocionais que estes provocam, a frontalidade e a coragem de Cronenberg foram reconhecidos em Cannes com o prémio especial do júri. Na viragem do século e com a entrada num novo milénio, o cinema de David Cronenberg transformou-se. Ainda que pondo de parte o gore e seguindo um caminho mais mainstream, os seus filmes continuaram a prender-nos à cadeira, com a mesma dose de sangue frio dos título do passado.
A History of Violence (2005) e Eastern Promises (2007) revelam ao grande público um Viggo Mortensen bem distante do seu papel no trilogia Lord Of The Rings. Em ambos os filmes, é um criminoso violento. No primeiro, foge do seu passado sanguinário em território norte-americano, quando confrontado por gangsters com quem trabalhou; no segundo, é uma importante figura do crime organizado russo, com ligações ao tráfico humano e à exploração sexual. Eastern Promises é ainda hoje um dos melhores exemplos de um incrível plot twist, que obviamente não irei revelar. Cronenberg e Mortensen colaboraram ainda uma terceira vez em A Dangerous Method, um filme que cruza os psicanalistas Carl Jung, Sigmund Freud e Sabina Spielrein.
Actualmente a atravessar um período menos produtivo, 2014 foi ainda assim um ano de momentos inesperados de David Cronenberg. No filme Maps To The Stars envereda por um novo género, numa sátira a Hollywood, em que o excesso e o egocentrismo são catalisadores da narrativa. Já na edição do seu primeiro romance, Consumed, regressa às suas raízes de body horror em que a tecnologia, o conspiracionismo e a sexualidade retomam o papel principal.