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Robby Müller é daquelas figuras do cinema que frequentemente passam despercebidas, mas cujo trabalho dita a nossa relação com o filme: director de fotografia. O seu trabalho constrói a estética das imagens, selecionando tanto a iluminação mais adequada a cada momento, como a intensidade e textura que deverão exaltar as emoções projectadas na grande tela. No fundo, traduz em imagem a visão do realizador.
Nascido na Holanda, acabou por definir o cinema alemão independente das décadas de 1970 e 1980, trabalhando com os principais nomes do país. E foi por isto que a Cinemateca Alemã em Berlim lhe dedicou uma exposição retrospectiva de Julho a Novembro de 2017, ano em que completa 77 anos de idade.
Ao longo da sua carreira Robby Müller imortalizou paisagens de cortar respiração e criou a sua própria assinatura, recorrendo principalmente à luz natural existente. Transformou sempre a câmara num meio de observação, recorrendo a close-ups ou zoom apenas quando absolutamente imprescindível.
A exposição da Cinemateca Alemã descobre o trabalho do master of light através de três realizadores, com quem trabalhou mais intimamente: Wim Wenders, Jim Jarmusch e Lars von Trier. Com recurso a entrevistas e exibição dos excertos mais marcantes, conseguimos compreender o trabalho cuidadosamente construído por Müller.
Desenvolveu com Wenders uma relação de proximidade desde cedo: trabalharam juntos pela primeira vez em 1968, na curta-metragem académica Alabama (2000 Light Years), e novamente em 1972 em The Goalkeeper’s Fear of the Penalty. Mas seria na trilogia de road trips que Müller haveria de aprimorar a sua técnica, transformando filmagens panorâmicas com movimento em verdadeiras obras de arte: Alice in the Cities (1974), Wrong Movie (1975) e Kings of the Road (1976). Iriam a colaborar novamente em 1984 para Paris, Texas, um filme de cor saturada e brilho.
Wenders e Müller construíram juntos um percurso cinematográfico único, em que as grandes viagens são metáfora para a auto-descoberta.
Pela mão de Jim Jarmusch, Müller integrou o cinema norte-americano, mantendo o seu método de trabalho natural, sem recurso a grandes artifícios, em perfeito contraste com a indústria. Em Down By Law (1986) e Dead Man (1995), a exaltação do preto-e-branco e lentos movimentos de câmara são a sua assinatura. Afinal, até na ausência da cor consegue provocar igual engrandecimento ao conseguido em Paris, Texas.
É com Lars von Trier que encontramos uma nova faceta, até então por revelar… Breaking The Waves (1996) e Dancing in the Dark (2000) foram filmados com câmaras portáteis, para lhes conferir maior naturalidade e um registo documental. A imagem com grão, por vezes desfocada e tremida em Breaking The Waves, semeou a discórdia no meio profissional de Robby, pois outros directores de fotografia consideraram o trabalho insultuoso para a classe. Mas particularmente em Dancing in the Dark presenciamos um salto técnico inovador, com o recurso a câmaras digitais – na época, mal afamadas – e a utilização de pequenas câmaras escondidas, nas cenas em que Björk dança e canta pelo cenário.
Para além da descoberta da filmografia de Robby Müller, a retrospectiva da Cinemateca Alemã reúne ainda artefactos pessoais, com a exibição de filmes caseiros e uma exposição de polaroids das suas viagens. O meu orgulho nacional obriga-me a destacar uma sequência de vídeo de ícones portugueses, de entre os quais um belo Galo de Barcelos e uma contemplativa Nossa Senhora.
Mais informação sobre a exposição Robby Müller – Master of Light no Museum für Film und Fernsehen em Berlim está disponível aqui.