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Comecemos pelas apresentações destas figuras britânicas relativamente desconhecidas em Portugal: Jack Whitehall é um comediante e actor nascido em 1988, e Michael Whitehall (nascido em 1940) é o seu pai , um reputado agente e produtor televisivo, em tempos responsável pela carreira de nomes como Judi Dench e Colin Firth.
Jack é um jovem como outro qualquer da sua idade e que antes do 30.º aniversário decide cumprir um sonho: viajar pelo mundo no gap year que nunca teve, pois começou a fazer stand up profissionalmente logo após a conclusão do liceu. Decide levar o pai, Michael, nesta viagem de 12 meses condensada em 5 semanas, para que se possam aproximar e melhorar o relacionamento entre ambos.
Michael é um cavalheiro de outros tempos, muito posh, que não sai de casa sem dois fatos na mala e écharpes a condizer. Percebemos logo no primeiro episódio que leva uma vida abastada, que se agarra muito à tradição e – como o filho faz questão de afirmar – não gosta nada de sair da sua zona de conforto, e muito menos de viagens ao estrangeiro.
A série Netflix é um documentário de viagens, uma comédia e uma road trip, tudo muito bem embrulhado em seis episódios. Percorrem a Tailândia, o Vietname e Camboja, destinos cada vez mais em voga e no topo das preferências dos exploradores do século XXI.
Apesar do ritmo frenético e aventureiro, que se pretende realista e documental, a série soa por vezes extremamente artificial – scripted – e previsível. Os 60 segundos em cena de Steven Seagal, a tentativa de levar aquele senhor elegante e conservador para um dormitório misto em Banguecoque, o permanente esforço de pressionar uma suposta ferida emocional de Jack (foi para um colégio interno aos 8 anos, coitadinho).
O que realmente se destaca de Jack Whitehall: Travels with My Father, é o Father, o pai, Michael. Rezingão e exigente, assume com muita graça o temperamento e consegue aligeirar momentos de maior tensão. Na fronteira Tailândia-Camboja, na cidade de Poipet – um cenário digno de Mad Max que tem “um odor específico” -, pergunta ao filho se se lembra daquela vez que em vez de terem ido para o Sul de França, vieram para Portugal: “quando cheguei, apercebi-me do erro que cometera“. Tudo isto com o ar mais british de que há memória, e por isso mesmo nos faz soltar uma sonante gargalhada.
Uma série que viaja pela ruralidade daquela parte do mundo, uma região em que o abismo social e económico é profundo e estruturante, que se safa por não retratar os locais como coitadinhos da sua condição, e nem sequer por se esforçar demasiado para nos mostrar imagens de cortar a respiração. Pelo contrário, é daquelas produções em que o egocentrismo funciona maravilhosamente bem.