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Elizabeth II, ou Elizabeth Alexandra Mary de nascimento, ou ainda Elizabeth Regina de título, conhecida em Portugal como Isabel II, é o rosto protagonizado no mais recente sucesso Netflix. A série estreou no primeiro dia de Novembro deste 2016, e em pouco tempo recebeu o selo de universal acclaim no site Metacritic. E a produtora respirou de alívio com o sucesso à escala global, já que este foi o seu maior investimento de sempre: cerca de £100 milhões.
A primeira temporada compõe-se de 10 episódios, estando já confirmada a segunda temporada. Peter Morgan, o criador, concebeu a série em 60 episódios – seis temporadas. Morgan é uma espécie de especialista na matéria, já reconhecido pelo seu filme de 2006 The Queen, que valeu a Helen Mirren um Óscar de interpretação e um convite para jantar em Buckingham com a própria Rainha, e a peça de teatro The Audience, com Mirren a retomar o papel em 2013 e com Kristin Scott Thomas a assumir o papel principal em 2015.
O reinado de Elizabeth II estabeleceu-se estoicamente há mais de 60 anos, o mais longo em território britânico, mas a história narrada começa um pouco antes. Entre flashbacks ao longo de cada episódio, a série recorda-nos a sua infância e relação com a família. Mas é a partir do casamento com Philip em 1947, jovem aristocrata que renuncia à sua herança Grega e Dinamarquesa, que se desenrola a estória The Crown.
Elizabeth é caracterizada como uma mulher que se emancipa por via do cargo. Desde tenra idade revelou um carácter forte e que sempre buscou a modernidade no seu tempo – já se sabe que foi mecânica durante a II Guerra Mundial; mas é em idade adulta que constrói lentamente a sua personalidade como governante e soberana. Porém, The Crown falha por uma certa ingenuidade na forma como nos apresenta à vida da jovem monarca… E esta é a única falha que aponto à série. Desde 1936 que Elizabeth sabia que seria, um dia, Rainha – isto aquando da renúncia do tio Edward VIII, que levou à coroação do pai, George VI. Ora, por muito inesperada que fosse a morte do pai em 1952 – vítima de doença prolongada – não é propriamente credível que a jovem Princesa não tivesse sido preparada e instruída para as suas funções e responsabilidades atempadamente.
O casamento com Philip é o momento zero da série, afirmado como um dos pilares de estabilidade da monarca. As polémicas mais ou menos públicas não são esquecidas: um marido que não se conforma com o papel secundário que assume no reinado, que tenta impôr o seu nome de família – desejando apagar o sobrenome Windsor da Coroa – e até o local de residência da família Real, e que não quer compreender que a nação está acima dele. Leva uma vida de festa, como um verdadeiro playboy – tudo o que um aristocrata endinheirado poderá desejar – deixando a esposa entregue aos seus assuntos. Há todo um carácter que me era desconhecido, de alguém muito egocêntrico, e que gostarei de ver desenvolvido na segunda temporada, em que será explorada a sua relação com o filho Charles. Aliás, não contive uma gargalhada quando Philip se refere a um jovem Charles como alguém demasiado sensível.
Aliás, as relações familiares são um tema permanente, especialmente a relação com a irmã Margaret, que nos relembra que para lá do rosto soberano há uma família, há questões emocionais a ter em conta, e há o relacionamento habitual entre irmãos. E haverá uma certa rivalidade?
John Lithgow é um dos mais brilhantes actores dos nossos tempos, e neste The Crown interpreta de forma irrepetível o magnânimo Winston Churchill. Homem de ferro, genial estratega militar, conduziu o Reino Unido de forma inspiradora ao longo de toda a II Grande Guerra. Na série, assistimos ao seu novo e último serviço público, como Primeiro-Ministro. Para além de ser um importante apoio de Elizabeth II nos primeiros anos de reinado, assistimos também ao atrito entre estes: a idade de Churchill já se manifesta e começa a pesar nas suas decisões. A anunciada nomeação para um Critics’ Choice Television Award já antecipa uma temporada de prémios bem interessante para Lithgow.
Elogiada pelo rigor histórico, The Crown não hesita em mostrar a faceta que mais nos custa aceitar na realeza. A cada episódio vemos que a coroação de Elizabeth é duplamente uma bênção e um fardo, uma obrigação que tem de ser capaz de assumir. Mas vemos também uma família descolada da realidade: num país em recuperação financeira, com racionamento de alimentos e uma séria reestruturação social, a sumptuosidade está sempre presente nas casas Windsor, que não abandonam o luxo a que têm direito de nascença. Por mais que Peter Morgan introduza uma certa preocupação com o homem comum, é evidente que a vida escudada e restringida às elites limita o conhecimento do mundo que encontram para lá dos muros vigiados.